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25/10/2011



Minha entrevista pra Playboy. Leia como se sucedeu :

PLAYBOY- Comece falando um pouco sobre você...
Rogério Casado - Putz, cara, sou tão ruim pra estas coisas...mas enfim, me chamo Rogério Casado, e ,como o próprio nome diz, já nasci Casado, a segunda vez foi burrice . Tenho 41 anos, sagitariano, não que eu acredite que isso influi em algo, mas nasci em Curitiba, morei muitos anos em São Paulo, depois em Araçatuba, por quase sete anos. Depois que me separei, praticamente virei um nômade. Morei algum tempo no Rio, em Salvador, Brasília, João Pessoa, Recife e Natal, viajei por esse país quase todo e finalmente vim parar em Fortaleza. Estou aqui desde 2008.

Playboy- E pretende ficar ou tem mais cidades no seu roteiro ?
Rogério- Gosto demais de Fortaleza. Não sei se saíria daqui, só se fosse uma proposta muito legal. Aqui , apesar de ser uma das maiores capitais do país, ainda se consegue ter alguma qualidade de vida. Tem um ar ainda interiorano, principalmente nos bairros mais afastados, fora do circuito dos turistas. O povo ainda senta na calçada no fim da tarde, vai pros botecos falar de futebol, em dez minutos de papo já é seu amigo de infância...o cearense é muito bem humorado, muito disponível, adora bater papo. E eu sou um pouco assim também, então, me sinto em casa. E tem a praia do Futuro, né ? Sou apaixonado por aquilo lá.

Playboy- Você morou um tempo lá ?
Rogério- Quase um ano. Pra mim, o melhor lugar do mundo.

Playboy- Mas você andou reclamando do empresário cearense no teu Facebook...
Rogério- É verdade. Deu uma até polêmica razoável, perdi alguns amigos virtuais por causa disso aí. Mas não me arrependo não. Justamente por gostar daqui , por querer e acreditar no potencial, me sinto mesmo no direito de criticar, acho que se fosse indiferente eu não estaria sendo cidadão nem fazendo o meu trabalho corretamente. Estou tendo dificuldade para me inserir no mercado aqui por isso. Mas eu elogio também. Existe uma vanguarda atuante, e eu acredito nela.

Playboy- Você é consultor de empresas, né ?
Rogério- Exato. Trabalho já diretamente com isso há uns doze anos. Já fui de tudo um pouco. Vendi consórcio, vendi avestruz, fui muitos anos corretor de imóveis. Isso  me deu uma bagagem comercial interessante, e (dizem) eu falo 'marromenos' (sic) em publico. Tem gente que trava na frente de uma platéia, eu não, tenho uma facilidade muito grande. Tenho algumas histórias ( e estórias ) pra contar...posso falar pro povo por horas, porque nosso treinamento é muito interativo, abro muito pro pessoal falar, então às vezes, eu acabo aprendendo muito mais do que os alunos, aparece cada história...é muito interessante e instrutivo.

Playboy- O que você disse dos empresários do Ceará ? Parece que você estendeu a crítica aos políticos cearenses também, não ?
Rogério- Foi. Eu disse que eles (os empresários) ainda acham que estão no tempo da caderneta, no tempo do mascate, do amadorismo. Ainda acham que incompetência de funcionário é normal, que é besteira investir em treinamento porque vai acabar, na verdade, reforçando o concorrente, afinal, ninguém fica muito tempo no mesmo emprego, pra que qualificar ? E , se esse funcionário fica, existem tantas pendências jurídicas, trabalhistas, erros deste mesmo empresário, que fica muito caro mandar um incompetente antigo embora. Acham que ninguem merece um voto de confiança. A maioria das empresas com quem tive contato, ainda está na fase familiar, parece que estão paradas no tempo. Mas como ganham seu dinheiro, estão acomodadas e não se sentem confortáveis em mudar. Tem medo de que uma mudança ponha tudo a perder, às vezes, trabalho dos pais, dos avós. Falta ainda muito conhecimento, falta muito a gestão de Recursos Humanos, política de venda, códigos de ética, de conduta, de procedimentos, enfim, regras claras. Não se tocaram que a mudança corporativa veio pra ficar.

Playboy- E como você meteu os políticos neste balaio ?
Rogério- Disse que isso, esse comodismo, essa inércia, se reflete inclusive e principalmente na escolha dos governantes. Sempre os mesmos , os mesmos indivíduos, os mesmos sobrenomes, sempre as mesmas moscas circundando a mesma teta. A prefeita daqui, por exemplo, foi reeleita mesmo sendo criticada por todos. Isso é muito ruim. O Cid (Gomes, governador do Ceará ) tem uma maioria acachapante na Assembléia, então não se discute nada, não se questiona nada. A Câmara dos Vereadores daqui chega a ser uma piada. Já perdi algumas tardes tentando assistir alguma sessão interessante, ou pelo menos consistente, mas eles ficam só discutindo o sexo dos anjos, muita picuinha pessoal, muita votação desnecessária, nome de rua, homenagem a beltrano, a sicrano. E besteiras do gênero. Os egos lá são gigantescos. Mas, no futuro, terão que ser cada vez melhores, mais honestos, mais transparentes, porque a sociedade vai impor isso, naturalmente, demore cinco ou dez ou cem anos. Hoje a tranparencia é obrigatória, mesmo que ainda não seja realmente transparente, como demonstra o portal destinado a esse fim. Ainda vão se aperfeiçoar muito as ferramentas, as pessoas vão adquirir o hábito de cobrar dos políticos, hoje é tudo on-line. Mas hoje, neste momento, eles fazem o que querem sem serem importunados por mídia, por eleitor, por cidadão ou por quem quer que seja. Espero que isso mude, um dia.

Playboy- Seu twitter era muito ativo, muito crítico até a metade do ano. Mas parece que você deu uma parada...
Rogério- Pois é. Na verdade eu tive uma decepção muito grande naquele episódio do jatinho do Cid Gomes. E, o pior, ele era reincidente, já tinha sido pego levando a sogra pra passear na Europa ! Gente, não é normal um político, esteja no cargo que estiver, ainda mais um governador de um estado importante como o Ceará, simplesmente cagar pra lei e pegar o jatinho do empresário, com quem tem muitos e obtusos negócios, e ir passear nos Estados Unidos. Porra, tem uma lei que regula essa merda ! Não pode, é crime. E eu caí na besteira de meter a boca no trombone. Caí na besteira porque a notícia simplesmente sumiu. Nenhum político, na assembléia, nem mesmo pra defende-lo, tocou no assunto. Justiça seja feita ao Heitor Férrer, este bravo, unica voz coerente naquele antro, que tuitou que entraria com uma representação questionando e tal. Mas...morreu. Ninguém mais tocou no assunto.

Playboy- E você ficou chateado por que exatamente ? Não gosta do Cid Gomes ?
Rogério- Nada disso, até acho ele um rapaz bem intencionado, tá fazendo um trabalho interessante no Ceará. A questão não é o Cid, e sim como pode um político desrespeitar absurdamente a Lei e ninguém dar um pio. Só vejo neguinho reclamando dos políticos e tal, mas ninguém se importa, ninguém mexe uma palha. Pela lei, o Cid teria saído do cargo, e, se fosse no Japão, possivelmente teria se suicidado. Improbidade administrativa. Da grossa, do tipo inafiancável, escândalo pra impeachment, e tal. Não existe oposição, isso a nível municipal, estadual e federal. A justiça é inoperante, muda e conivente, cega. Não existe discussão, não existe mais o embate de idéias. Existe o interesse, existe a teta a ser sugada.

Playboy- Você sempre se interessou por política ?
Rogério- Sempre.

Playboy-Mas isso começou exatamente quando, esse interesse ?
Rogério- Tive a sorte de ter um pai leitor. Meu pai lia muito, e eu peguei este hábito, esse vício, desde cedo. Com 12, 13 anos, já lia a Gazeta do Povo de cabo a rabo, até o obituário ( risos ). Lia a Veja, lia o Pasquim, absolutamente tudo que me caísse nas mãos. Muita coisa não entendia, mas mesmo assim eu lia, pesquisava, queria saber. Sempre fui muito curioso. E sempre me interessei por notícia propriamente dita, no processo de obter a notícia,  no trabalho do repórter, de estar presente ao acontecimento e ter sangue frio pra registrar. Imagina o que sentiu o Bial quando estava vendo o muro de Berlim cair. Me sou do tempo do Jornal Nacional apresentado pelo Cid Moreira e pelo Sérgio Chapelin, em pleno governo Figueiredo, 78, 79 , por aí. Adorava ver, ficava encantado como eles conseguiam mostrar uma notícia de Brasília e depois uma de Londres . Aì tinha uns 7, 8 anos. Foi quando teve aquele atentado do Riocentro, aquilo me chocou profundamente. Quis saber tudo a respeito, o porque aquilo tinha acontecido, bombardeei meu pai de perguntas. Acho que começou aí. Na verdade, no dia seguinte, quando fui suspenso na escola pela primeira vez...

Playboy- Suspenso ? Como assim ?
Rogério- Essa é boa ! Eu estudava no Positivo, quando eles ainda estavam começando e tal, longe de serem esta potência que são hoje. Mas eu estava numa aula de geografia, e comentei com um colega que o mapa do Brasil tinha um formato de uma cara de cavalo, ou de burro, por causa do atentato e tal. Ele, claro, caiu na risada, a professora perguntou o porque, ele disse, a sala inteira riu. Pois a professora, sei lá porque, ficou indignada, disse que não podia falar da Pátria daquele jeito, e tal, e eu acabei batendo boca com ela, disse alguma bobagem. Imagina, um piá de 7 anos ! Acabou que eu fui pra diretoria e acabei suspenso, por desacatar a professora e ofender a Nação.

Playboy- Não deve ter sido a única vez...
Rogério- Imagina. Eu sempre fui muito bagunceiro, muito falador. Não sei como os professores me aguentavam. Eu fui 'convidado a me retirar' em 4 colégios. Não era fácil não.

Playboy- 4 colégios ? Mas então você era um marginal !!
Rogério-Que nada, eu nunca fui vândalo, nunca fui de brigar, de arrumar confusão, pelo contrário, era bagunceiro dentro da classe, fazia comentários inoportunos, piadinhas imprópias nas piores horas possiveis. Tinha uma vantagem : adorava ler. Então, quando eu pegava as apostilas,eu devorava, principalmente história e geografia. Então ia pra aula mais ou menos conhecendo o conteúdo, tinha uma noção do que era passado pra galera, as vezes até atropelava os professores. Então, eu dispersava muito, e levava a galera comigo. Repeti a sexta e a sétima série. Era zoneiro demais, tava sempre fora da sala, suspenso ou matando aula. Mas no geral era um aluno razoável, tirava as notas necessárias.

Playboy- Você estudou aonde ?
Rogério- Fiz o primário, o antigo primário, né, no Positivo Júnior, ali perto da praça da Ucrânia, em Curitiba. Naquela época não era gigantesco como é hoje, mas já tinha uma estrutura legal, tinha piscina, fazia judô e tal. Depois, no segundo grau, estudei 3 anos no Lins de Vasconcellos, ali no Bom Retiro, na Nilo Peçanha. Ali eu desbundei, ficava período integral, das sete da manhã as seis da tarde. Era popular, bagunçava muito, tinha torneio de pingue pongue, futebol, cidade mirim. Era um colégio espírita, mas naquele tempo ainda se cantava o hino nacional toda sexta feira, de pé, na rua, hasteando a bandeira, todo mundo com a mão no coração. Tinha uma cidade-mirim, genial, eleição pra prefeito, vereadores e tal. Minha noção de cidadania vem daí. Era bem legal, tinha várias regras, tinha banco, correio, até multava quem jogasse lixo no chão. Fiz amigos demais lá, alguns são meus 'brothers' até hoje, como o Fraxino, o Glanoni, o Roda, a Simone...quando gentilmente me convidaram pra sair de lá, o inspetor-chefe, o Rubão, gostava tanto de mim que deu a notícia chorando pra minha mãe ( risos ) ele dizia "ah, dona Lavínia, um menino tão bom, com um coração de ouro, mas os professores não querem mais ele aqui..." ( risos ). Aí, com 14 anos , fui trabalhar de oficce boy na loja de colchões do meu pai e do meu tio, e terminei  estudando um ano, a noite, fazendo supletivo pra recuperar os anos perdidos do segundo grau.

Playboy- Isso foi em que ano ?
Rogério- 1984 pra 1985. Foi a época mais marcante da minha vida. Época do primeiro porre, da primeiro tudo que você possa imaginar.

Playboy-Por que ?
Rogério- Porque eu descobri a vida nessa fase. Curitiba era maravilhosa nessa época. Existia uma efervescência cultural muito forte brotando, a abertura política, o rock nacional, tinha o Blindagem, tinha os Replicantes. Aconteceu muita coisa ao mesmo tempo.

Playboy- Cite algumas.
Rogério- Ah, era tudo muito louco. Fui, como disse, estudar a noite, no  supletivo Bardall, na praça Carlos Gomes, centro de Curitiba. No primeiro dia de aula, um professor entrou na sala e foi logo dizendo "olha, todo mundo acha que aqui é pagou-passou. Não é bem assim ! Mas por favor, ninguém atrasa a mensalidade senão a gente não pode fazer nada..." Depois desse dia, só ia lá fazer as provas. E então conheci a noite de Curitiba, meu tio Ademir era muito boêmio, me levava pra jogar futsal com a velharada e depois ficava tomando cerveja até altas horas. As putas no centro velho, perto da rodoviária antiga, andava o centro todo batendo perna. Ia muito no Major Antônio Couto Pereira, lá no Alto de Tantas Glórias, no alto da XV, cortava ali pelo Passeio Público, em direção ao Colégio Estadual. Ás vezes num frio do cão. Típico de Curitiba. Vi muitos jogos nessa época, vi o Coritiba ser campeão brasileiro, um feito sensacional. Jogo de meio de semana, a noite, eu tava lá. Ia tambem ver o Colorado na vila Capanema , o Atlético, no Joaquim Américo com arquibancada de madeira, um estadiozinho acanhado que só, bem diferente do meio estádio que tem lá hoje, a tal da Arena.

Playboy- Mas você é coxa branca, né ?
Rogério- Fanático. Até uns sete anos fui são paulino, mais por influencia do meu pai e do meu avô. Meu avô Candido Margonari Casado era um iniciado. Tinha uma coleção imensa de Placar, desde o começo dos anos 70, tinha aquelas antigas Revista do Esporte, jornais antigos, A Gazeta Esportiva desde 1952, era uma coleção maravilhosa que se perdeu. Então eu li muito sobre futebol, principalmente porque ia passar as férias na casa dele em Santos, e era a única coisa disponível pra ler. Mas teve outro detalhe : meu tio e meu pai cresceram em Santos justo na época do Pelé e tudo o mais. Eles tinham muitas histórias pra contar. Uma vez meu avô me levou na Vila Belmiro, eu conheci o Clodoaldo, o Pepe, o Dorval, o seu Zito, todos trabalhavam ou estavam no Santos, já com idade, mas lá. Nunca vou esquecer. Depois, gostava muito daquele Santos dessa época, de Juary, Pita, Nílton Batata, isso eu tinha uns 9 anos, em 79 por aí. Mas acompanhava mesmo os times de Curitiba. A primeira vez que fui sozinho num estadio, foi pra assistir um Coritiba e Corinthians, no Couto Pereira , em 1980. O Cori venceu por 1X0, gol do Vílson Tadei, quase do meio campo. Virei coxa, mesmo, nesse dia. Já acompanhava futebol com muito interesse, me lembro que em 79 o Coritiba foi assaltado pelo Vasco na semifinal do Brasileiro, era pra termos feito a final com o Inter. Em 80, não tem o que discutir, o Flamengo era o melhor time do mundo, e mesmo assim o Coritiba engrossou na semifinal. Mas em 79 doeu....aliás, ser coxa branca ajudou a moldar minha personalidade, porque em São Paulo eu era o único no meio de são paulinos, palmeirenses e corinthianos. Me fez ter essa ligação eterna com Curitiba, enfim, eu amo o Coritiba demais.

Playboy- O futebol mudou muito...
Rogério- Com certeza. Pra que se avalie melhor, em 82 todos os titulares daquela seleção maravilhosa desfilavam sua técnica em gramados brasileiros. Na Copa da Itália, em 90, nenhum jogador atuava por time brasileiro, a não ser o Dunga, que jogava no Corinthians. Isso  mostra a grave descaracterização que o futebol brasileiro sofreu naquela época e sofre a consequencia hoje. Cada vez mais jogadores foram pra fora, e cada vez mais jovens. Se adaptaram ao estilo europeu, marcação forte, disciplina tática. Perdeu a improvisação, o drible, a criatividade. Mas o pior: perdeu a identidade com o torcedor. O cara que beija o escudo do Inter amanhã vai estar no Grêmio, o grande jogador do São Paulo vai pro Palmeiras. Isso o torcedor não perdoa. O lendário camisa 10 da seleção, hoje pode jogar no Barcelona, no Milan. Não se tem empatia, não tem admiração. Hoje é um negócio bilionário, envolve cifras absurdas, direitos de tv, vendas de camisas, direitos federativos, de imagem. No Brasil, ainda tá engantinhando, não somos profissionais, a a legislação é conivente com os corruptos cartolas, que acham ser donos dos clubes. Esse Ricardo Teixeira é um verme, deveria estar preso, faz muito tempo. Mas manda no futebol. Falta seriedade, falta respeito ao torcedor, falta estádio decente. Poderíamos ser a NBA do futebol, sem duvidas. A cara do Brasil, ou uma das mil facetas deste improvável Brasil.

Playboy- Você estava falando das putas do centro de Curitiba...
Rogério- Pois é, foi um grande aprendizado. Não que eu saísse com elas, nem tinha salário suficiente pra isso , mas eu ia, perguntava quanto era, batia papo, xavecava, elas riam de mim, né ? Aí eu, matando aula e o tempo pra ir pra casa, ficava num boteco, enrolando com uma coca e um pão com vina , que é como se chama a salsicha em Curitiba, olhando, via o movimento, acompanhava as movimentações dos clientes, o entra e sai daqueles hoteizinhos  ordinários, bem vagabundos mesmo, era cômico. Ia cada noite prum lugar diferente : Praça Tiradentes, Largo da Ordem, Praça Osório, Praça Santos Andrade, Batel, Bacacheri. Então acabei virando um observador da boemia curitibana, pelo menos a do começo das noites, já que tinha que estar em casa as onze, quando dava o horario da minha aula. Conheci muita gente bacana, ficava ouvindo os mais velhos falarem de política na Boca Maldita, tomando chá gelado naqueles quiosques azuis. Eu adorava. Daí veio essa minha tendência à vida desregrada e amoral que eu tenho hoje .

Playboy- Foi nessa época você foi pra São Paulo ?
Rogério- Foi sim. Foi um choque muito grande. Pra mim, Curitiba era tudo, era aonde estavam meus amigos, aonde conhecia cada canto, cada buraco. Sabia aonde era o melhor sorvete, o melhor sanduiche, o melhor show, a cerveja mais gelada. Sabia ir pra qualquer lugar, conhecia tudo. Com 15 anos eu saía com a Belina da minha mãe, andava pra cima e pra baixo dirigindo, numa boa , sem stress, com meu pai do lado. Nessa época morava no Jardim Centenário, depois da avenida Batel, na Rua Daltro Filho, 11. Era muito, muito tranquilo lá. E .de repente, meu pai, que trabalhava na Vulcan, foi transferido pra São Paulo, aquela cidade gigantesca, assustadora, com muito prédio, sem céu azul, aonde eu não conhecia ninguém. Não foi fácil no começo. Mas depois foi muito bom, porque consegui expandir meus horizontes, culturalmente falando. Continuei lá minha vida boêmia: baixa Augusta, Love Story, Kilt, Café Photo, quando era no Itaim Bibi. Eu vi o Dick Farney cantar numa boate a meia luz na Boca do Lixo, com meia duzia de bebados pedindo musica. Vi Nélson Gonçaves tropeçando, Cauby no Bar Brahma cantando "Conceição", na lendária da Ipiranga com São João. Vi Roberto Luna cantando " Revolution" dos Beatles, antes dum show de strip-tease com mulheres de qualidade e beleza bem duvidosa, numa boate na rua Avanhandava, pertinho dum restaurante sensacional chamado .Isso não tem preço.

Playboy- Você posta muita música, principalmente no Facebook. O que você mais curte ouvir ?
Rogério- Ouvi muito anos 80, né ? Em Curitiba escutava muita MPB, Elis, que amo até hoje, Caetano, Chico, Gil, Secos e Molhados, Zé Ramalho...meu tio Ademir tinha uma loja de discos, de vinil, imagina, a Musikantiga, então eu tinha acesso total, a tudo que se lançava, era muito bom, eu gravava tudo naquelas fitas cassetes TDK, noventa minutos, antigaças, naqueles aparelhos profissionais, Technics japoneses. Um pouco antes de mudar pra São Paulo, talvez um pouco mais de um ano antes, começou aquela explosão : Blitz, depois veio Paralamas, Legião, Léo Jaime, Ultraje, Titãs, Inocentes, Plebe Rude, Capital, tudo ao mesmo tempo agora, e eles iam muito tocar em Curitiba, era pertinho do eixo. E nós tinhamos uma turminha lá que ia em todos os shows. Uma vez teve um festival no Parque Barigui, uns tres meses antes do primeiro Rock'in'Rio, fiquei tres dias e tres noites acordado, vendo todos esses caras, mais Metro, Magazine , do "Eu sou Boy", Kid Abelha. Foi muito forte. Mas era focado muito no rock nacional e tal. O máximo que ouvia de fora era Beatles, Elvis, Frank Sinatra, Nat King Cole, mais pelos meus pais que curtiam. E Pink Floyd, né ? Ouço desde que me conheço por gente. Fazia, e faz  minha cabeça totalmente. "The Wall", tanto o fime quanto o disco, foram reveladores pra mim, foi uma influência fortíssima. Quando cheguei em São Paulo, foi um choque : de repente tava ouvindo Sex Pistols, Metallica, Oingo Boingo, Siouxie, U2, Talking Heads, The Smiths, Pretenders, Rolling Stones, indo pro Projeto SP na Augusta ver Ratos de Porão, Garotos Podres, indo no Palace ver Ramones...sou muito ligado em música até hoje. Estudei no Objetivo da Paulista, então eu tocava bateria com o pessoal, naqueles Ficos, que é o festival interno de musica. Foi outra época interessante. Dá pra saber meu humor pela playlist do mp3.

Playboy- E hoje, o que você ouve ?
Rogério- Tá tudo tão chato, tão repetitivo, que eu ainda prefiro ouvir os clássicos mesmo. Ouço muito Beatles, sempre ouvi, sempre ouvirei, amo, adoro. Gosto de jazz, gosto de blues, soul music, Motown, e rock sempre, ouço muito heavy dos anos 70/80, Led, AC/DC, Kiss, Black Sabbath...mas não gosto de música sertaneja, pagode, forró, nunca comprei um cd, nunca baixei uma música, mas eu suporto, assim, tô num bar e toca aqueles pagodes ou forrós dor de cotovelo, eu regurgito numa boa. Mas não paro pra ouvir, e tal. Um dia postei no twitter que o Justin Bieber parecia a Nikka Costa cantando, quase fui apedrejado virtualmente, é claro... quando estou lendo ou estudando, gosto de música clássica, bem baixinha. Incrível como a música dita a velocidade da leitura. Me ajuda na concentração, na atenção no que está escrito.

Playboy- O que você está lendo agora ?
Rogério- Rapaz, eu ando lendo muita filosofia. De uns dois anos pra cá, resolvi revisitar os clássicos que tinha lido na época da faculdade. Tenho lido Homero, Platão, Nietsche, essas velharias que ninguém se interessa mais. Porém, leio com muita atenção, e é incrível como minha percepção mudou nesse intervalo do tempo de faculdade pra hoje. Experiencia, né ? Ou velhice...coisas que considerei naquela época grandes tolices, hoje fazem total sentido. Digo isso mesmo de Platão, Aristóteles, Dante, até os Lusíadas, que é uma leitura cansativa, densa, acabou tendo outro sabor. Isso vale pra ficção tambem. Andei revisitando Cervantes, Jorge Amado, Machado de Assis, Dostoiévski...adoro. Recentemente reli Os Sertões, que na época de colégio era leitura de vestibular, obrigatória. Lá atrás eu achei um porre, muito, muito chato, aquelas descrições intermináveis, detalhadíssimas, a demora em chegar na guerra propriamente dita. Hoje, como eu conheço a região, conheço melhor a história do Brasil, o momento político que eles estavam vivendo, a leitura ficou interessantíssima, me deliciei e foi um enorme prazer, devorei aquele calhamaço em uma noite. Gosto muito das reportagens do Fernando Moraes, "A Ilha", "Olga", "Garrincha". E biografias.

Playboy- Como você analisa o momento político brasileiro ? A gente sabe que vem uma crise brava por aí...
Rogério- Bom, ouço falar em crise desde que nasci. Sempre esteve em crise. Vivi a hiperinflação. Era uma coisa inenarrável. Depois, aquele monte de plano economico, um atrás do outro, só cortando zero. Uma vez vi meu pai pagar uma conta num restaurante : o cheque era de oitocentos e sessenta mil, quatrocentos e tantos cruzeiros novos. Era ridículo. Hoje é bem diferente. Muita coisa mudou, e não foi apenas a estabilização da economia. Houve um processo de emburrecimento do povo, houve uma violenta segregação da classe pensante e da massa ignorante. Isso não foi por acaso.

Playboy- Explique isso melhor.
Rogério- Não acredito nestas teorias de conspiração, que as vezes aparecem por aí, principalmente na internet, alguns blogueiros ainda insistem na fantasia, no fantástico, no irreal. Eu tento analisar com base em fatos. O Brasil tem uma trajetória ímpar na história da humanidade. Mas é exatamente o retrato do seu empresário, esse mesmo, que eu atendo todos os dias. Tantos eles, quanto o Brasil, não tem noção exata do seu real potencial. Estão atrasados demais tecnologicamente, culturalmente e tem gestões arcaicas, jurássicas. Não dá pra acreditar.

Playboy- Demonstre isso dando o Brasil como exemplo.
Rogério- Não precisa ir muito longe, não. Fomos um dos últimos países do planeta a abolir a escravatura, e um dos últimos a estabelecer a república. Isso é fato. Posso citar o atraso que foi termos um Estado vínculado a Igreja Católica durante quase 400 anos. Hoje temos um Estado dito laico, mas com crucifixo pendurado em todas as repartições públicas, o que por si só é uma aberração. No Palacio do Planalto tinha um lindo, obra de arte mesmo, valiosíssíma, mas o Lula Lá levou pra casa como recordação, então isso não consta mais do patrimônio publico, não pertence mais ao povo. É, ele roubou. Assim como tudo o que tinha na adega presidencial. Enfim, ficou por isso mesmo, como o jatinho do Cid... Tivemos alguns momentos historicamente propícios em que poderíamos ter mudado o rumo da história, mas inexoravelmente falhamos. Estamos vivendo este momento agora, novamente, e repetindo os mesmos erros...

Playboy- Imagino que você citaria a derrota das Diretas Já como um desses momentos...
Rogério- Foi um dos momentos, mas na verdade, um dos menos importantes. Ali estava acontecendo uma transição, do militar pro civil. O Tancredo morrer foi uma fatalidade, e nós tivemos que engolir, como diria o Zagallo, nada mais nada menos que o Zé Sarney, esse mesmo que hoje nos desonra se perpetuando na vida publica, cagando regra pra justiça e com um patrimônio pornográfico, pra setenta gerações. Presidente do Senado, assim como Renan Calheiros o foi. Daqui a pouco é a vez do Fernandinho Collor. Mas penso num momento historicamente anterior, que definiu sim e explica essa apatia em que vivemos hoje.

Playboy- E qual seria este momento ?
Rogério- Foi no começo do regime militar, pós golpe de 64. Milico pensa como milico, é organizado, sistemático, tem que fazer relatório de tudo. Eles herdaram um país que vinha se desenvolvendo rapidamente, com Brasília novinha em folha, aquela euforia dos 50 anos em 5, Brasil bi-campeão mundial de futebol, com várias industrias florescendo, com pobreza, sim, claro, muita, resqúicios de 460 anos de escravatura. mas com uma escola publica de excelente qualidade, não dava pra todo mundo, mas era boa. Então eles começaram a colocar gente boa pra tocar uma Companhia Siderurgica Nacional, uma Petrobrás, uma USP. Civis, gente com conhecimento técnico. Desenvolveu muito. Porém, houve uma ruptura, que foi a crise internacional do petróleo, nos começo dos anos 70. A ditadura tava no auge, repressão, violência, cassação de direitos políticos, guerrilha.

Playboy- Nossa querida presidenta assaltando banco...
Rogério- Sim, e muitas cabeças pensantes e atuantes politicamente sendo mandadas pra fora do país, como o Brizola, o próprio FHC, o Serra, o Gabeira, o Arraes, e tantos outros, e , pior, uma juventude amedrontada, acuada pela violência do regime. Daí nesse exato momento aconteceu aquela questão do petróleo. O mundo tava pagando fortunas pelo barril de petroleo e os indiozinhos da Bananalândia aqui descobrem o alcool bio combustivel. Fonte renovável, limpa, menos agressiva, mais barata. Nós poderíamos ser uma Arábia Saudita, um Bahrein, todo mundo andando de Mercedes...mas, pra variar, falhamos como nação, como coletividade.

Playboy-O alcool só funcionou no Brasil, né ?
Rogério- A questão não é essa. Respondendo sua pergunta, sim, só no Brasil, assim como as jabuticabas e a meia entrada pra estudante e idosos. Nós inventamos o bio-combustivel, chegamos a ter 99% dos carros aqui rodando com alcool. Como disse Pero Vaz de Caminha, nesta terra se plantando , tudo dá. Temos fotosíntese praticamente 365 dias por ano. Nenhum outro lugar no planeta tem isso, essa natureza, essa biodiversidade. Na Africa a terra não é boa como aqui, tem muito deserto, sobrou pouca floresta. No hemisfério norte, nem se fala. A incidencia cronica de neve e os invernos rigorosos impedem a produção de muita coisas, ou restringem pra algumas poucas épocas do ano. Aqui não. Aqui é sol, é fotosíntese, é energia eólica o ano inteiro.
Mas o que eu queria analisar é o desdobramento disso. Imagine o alcool entrando como pauta numa reunião das maiores petrolíferas do mundo, em plena crise do petróleo. O que estava acontecendo ? Esses caras chegaram num determinado momento, olharam para o mundo e disseram : olha, nós produzimos um bem indispensável, mas que é finito e que vai acabar um dia, chamado ,petróleo e todos os seus milhares de derivados. Para produzi-lo, nós gastamos bilhões em prospecção, torres, perfuração de poços, refinarias. Então, nós, a partir de agora, vamos cobrar mais caro, a nosso bel prazer, pelo preço do barril do petroleo que produzimos. A questão é : o mundo é baseado em petroleo. Nem falo só dos combustiveis e óleos, eu digo o plástico, eu digo as usinas, tudo que se move, avião, carro, onibus, navios, jets-skys, enfim, é muita coisa. Aí os indiozinhos , de Pindorama, além de descobrirem o álcool combustível, renovável, e, portanto, virtualmente infinito, descobrem as propriedades do óleo de babaçu., da castanha, da carnaúba...se extraem quase 12 tipos de óleos diferentes do babaçu. Era demais...

Playboy- Se for mesmo pensar, nossa flora tem tantos elementos, como a borracha das seringueiras, e tantos outros, que não são aproveitadas em seu enorme potencial, como o próprio alcool, não existe um incentivo a produção...
Rogério- Tem sim, muito financiamento estatal pra enriquecer os usineiros, que , não por acaso, são todos ligados as tradicionais elites políticas. Hoje o Brasil produz pros outros países beneficiarem e nos devolverem industrializado pelo triplo, quádruplo do preço. Isso é com alimento também, com matérias primas básicas e tal...mas não quero perder minha linha de raciocínio, estávamos lá nos indiozinhos de Pindorama que tinham descoberto essas coisas. O que os malandros do petroleo fizeram ? Pensaram : o governo americano tem muito dinheiro investido nesses imbecis. Vamos fazer um acordo com o governo americano e vamos arrancar até as cuecas dos manés.

Playboy-Nossa, você faz a coisa parecer cruel...
Rogério- Foi pior que isso. Já existia uma dominação cultural americana em andamento. Aconteceu tudo junto. A Globo cresceu com dinheiro da TIME Warner, teve até CPI, que não deu em nada, já que pela legislação da época, e até hoje, empresa de mídia não podia ter capital estrangeiro. Aliás, por isso o PT se interessa tanto no tal controle da mídia. Mas como mágica, assim, de repente, do nada, a Globo tinha alta tecnologia, transmitia a cores, com alcance nacional, com quase todas as retransmissoras nas mãos dos políticos ligados ao regime. Sarney, Collor, sempre eles...Canal de TV é concessão púbica, nunca é demais lembrar. E de repente esse câncer chamado Rede Globo começou a emburrecer massivamente a população como um todo, numa orquestração que jamsi poderia ter sido por acaso. Principalmente no começo, um jornalismo tendencioso, uma programação voltada a exarcebação da sensualidade, sem nenhum principio educativo, impondo filmes e seriados americanos retratando violência, prosttuição, amoralidades incontáveis. Já presenciei indicação de sexo oral na Malhação, que passa as 5 da tarde. Imagina uma criança presa num barraco, na favela da Rocinha, os pais foram trabalhar, ele morrendo de fome, assistindo Ana Maria Braga fazendo aqueles pratos incríveis, e babando na tela, tocando sino na geladeira, ele abre a dele não tem nem água. O impacto é enorme. Pelo menos a Globo nos proporcionou muitas boas Playboys. Mas é claro que a Globo não fez nada sozinha, não é a única responsável. O governo brasileiro fez o que podia pra tornar o processo mais rápido.

Playboy- Mas isso não contradiz com a história ? Pois este período ficou conhecido como a época do "milagre econômico" , não ?
Rogério- Pois é justamente aí o busílis. Deixa eu voltar naquele momento dos donos do petróleo negociando e entrando em conluio com o governo americano. Alguém teve a brilhante idéia : bem, eles precisam de dinheiro pra crescer e montar infra estrutura, abrir estradas, fazer a Rio-Niterói , manter a maquina estatal ineficiente, subornar os politicos e tal. Vamos emprestar tudo o que eles nos pedirem, cobrar juros bem altos, mas pra facilitar o pagamento a gente empresta com prazo muito longo, a perder de vista mesmo. Vamos emprestar um dinheiro que não vale nada, e mesmo que eles nos devolvam este papel pintado que nada vale como pagamento, ainda assim os juros terão que ser pagos com suas riquezas naturais.

Playboy- Então o dólar é apenas um papel pintado que não vale nada ?
Rogerio- Tá provado isso, hoje, 40 anos depois, os EUA estão quebrados. Quando esta crise começou, ficou demonstrado que os bancos, além de frágeis, sobrevivem de capital especulativo, muitas vezes apenas viajam de computador em computador, aos bilhões. Na última vez que esse dado foi feito, lá no começo dos anos 70, foi constatado que havia muito mais dinheiro em circulação do que a riqueza que ele deveria representar. Naquele momento, existiam 14 vezes mais dólares do que a soma de toda a riqueza americana. Ou sexta, 14 vezes mais, sem lastro algum. É ou não é um papel pintado que não vale nada ? Quem emite o dólar ? Quem fiscaliza ? Mas o Brasil pegou muito desse papel...muitas riquezas pessoais foram alimentadas por ela, principalmente pelo vírus não republicano da corrupção.

Playboy- A economia mundial cresceu na base do dólar desde a segunda guerra...
Rogério- Sim, mas na Europa, sempre existiu a moeda local, que era forte. Hoje mesmo o euro está engolindo o dólar, mas tambem não se sabe em que riqueza ele se baseia. O valor é especulativo. Por que os olhos americanos se voltaram para nós ? Porque no resto do mundo, ou não se tinham as riquezas que aqui se encontravam, ou a cultura local era muito sólida para permitir esse estupro. Aqui tudo era favoravel : governo militar e corruptos ávidos por seu quinhão, inflação, descontrole financeiro, mas tambem riquezas ilimitadas a disposição, precisando de financiamento pra serem exploradas, povo sendo cruelmente emburrecido com a conivência das autoridades, já simultaneamente a ascenção da Globo, quebraram a escola publica, o professor passou de um ente extremamente respeitado na sociedade para ser quase um miserável, ganhando salário de fome, sem infra-estrutura e sem motivação, sem reciclagem, sem cobranças. Os brasileiros ganaciosos, querendo levar vantagem em tudo, enriqueceram suas elites politicas, construindo patrimonios fantasticos, e segregando cada vez mais o povão, o cidadão comum. O resultado está aí, tiroteio e violência nas ruas, igualzinho os filmes da sessão da tarde O moleque com trezoitão na mão se sente o Poderoso Chefão. Putaria e prostituição, igualzinho as moçoilas nas novelas. O cara termina a faculdade e não sabe ler nem escrever direito.  Ninguém cobra o político, que anda com vinte seguranças dentro da sua Cherokee blindada. Ninguém gosta de política. Por que nenhum político acaba com a violência ? Porque enquanto você tá preocupado em não ser assaltado, não está prestando atenção nas maracutaias deles. Ninguém gosta de ler. É triste.

Playboy- Você disse que não acredita em teorias conspiratórias, e acabou de proferir uma...
Rogério- Na verdade, é só você analisar os fatos e as datas. Não tem nada de conspiração, e sim, de dominação. Os EUA não fizeram isso no mundo todo ? Eles são bons nisso, temos que admitir...

Playboy- Tem solução ?
Rogério- Estamos vivendo este momento, acho, de definição. Os olhos do mundo estão virados pro Brasil. Hoje tá tudo conectado, interligado, a informação é muito instantanea. Vamos ter uma Copa, uma Olímpiada. Tenho percebido , principalmente nas redes sociais, uma juventude bem informada, curiosa, isso dá um alento. A informática, a tecnologia da informação em tempo real, é muito recente, as transformações estão aí, acontecendo neste instante. Sou totalmente a favor da universalização da banda larga, todo mundo deveria ter acesso a rede 3G, a informação tem que ser disseminada, cada vez mais em tempo real. Li em algum lugar que o Brasil produz 14% do seu potencial. Isso quer dizer que com 14% a gente abastece a população interna, e exporta o volume fantastico que a gente exporta. Os EUA operam a 44%. Quer dizer, olha o nosso potencial.  Dá pra fechar as porteiras e viver só com o que é produzido aqui, todos vivendo como reis. Mas a classe que deveria fazer isso acontecer, é irresponsável e ganaciosa, pra não dizer mesquinha. O custo Brasil é real, não dá pra ser competitivo. Somos pretensamente potencia, mas anda nas ruas e me diga como isso pode ser possivel. Mas eu acredito...talvez em algumas décadas.

Playboy - Muita pobreza, muita sujeira nas ruas. Como reverter isso a curto prazo ? Você não pode negar que houveram avanços, principalmente no governo Lula...
Rogério - Não compartilho da visão que Lula foi o único responsavel pela diminuição da pobreza no Brasil. Pelo contrario, acho que fez muito pouco pelas condições em que recebeu o país. FHC sanou, em termos discutíveis, a economia, com o Real, vendeu um monte de estatal, tinha muita grana em caixa. Até o pagamento da divida externa, Lula capitalizou. Ele ampliou e reuniu os programas assistenciais do FHC ? Sim, com certeza, e se apresentou como pai da criança, típica ação de um sindicalista pelego como ele. Soube explorar muito bem essa imagem do operário que virou presidente, virou o pai de todos, o povo definitivamente o ama, conseguiu se blindar em todos os escândalos dos seus dois atribulados governos. Sei disso, e acho até que ele tem alguns méritos. Mas o que mais ele fez ? Apoiou o Irã e todos os caudilhos sul-americanos, Chavez, Moralles e essa corja toda. Fez os países industrializados rirem das nossas posições diplomáticas por vezes ambiguas e oportunistas. Uma hora critica, outra hora ta lambendo o saco. Permitiu que o Gabinete da Casa Civil virasse um puteiro, com imoralidades que escandalizariam o menos franciscano dos padres. Isso durante os dois mandatos, quantos passaram por lá ? Disse que não sabia do mensalão, mas era na sala do lado da dele...ele é uma raposa. O que foi aquele encontro dele com o Collor, quando este voltou ( por desejo do povo ) ao Senado Federal ? Duas putas ! Compôs com o Sarney, com todos aqueles que ele criticava cegamente quando estava na oposição. O que é o Pallocci, sempre envolvido em probemas, com várias investigações nas costas ? O que é o Zé Dirceu, essa eminencia parda que se acha um Russeau mas é somente um bandido de alta periculosidade, chefe de quadrilha, como o Supremo o chamou ? A Dilminha Furacão tem sua parcela de culpa, pois trouxe eles de volta a cena, não que eles tivessem realmente saido de lá em algum momento. Ninguem fala na Gamecorp, do Lulinha.Dos interesses envolvidos. Ele disse que não sabia também. Um presidente que nada sabe, mas é amado pela sua inocência, o tolo Jeca Tatu da atualidade. Era um, mas quando tomou posse, virou um FHC de barba e, pior, inculto. O imbecil chegou a declarar que ele era a prova viva que não precisava estudar pra ser presidente. Ora , faça-me o favor. Mas é a cara do Brasil, não dá pra negar.

Playboy - Dilma se reelege ?
Rogério - Parece que sim. Do jeito que vai, nem candidato contra ela vai ter. O PSDB morreu, ou respira po aparelhos. Falam no Aécio, no Serra, no Alkimin. Esse pessoal não fala pro povo. O povo simplesmente não entende o que eles falam. É fato. A oposição morreu. Também não acredito nessa tal terceira via, Marina ou qualquer outro. A verdade é que o povão mesmo, o que não gosta de política, o que não vê jornal, o que tá preocupado com a violência, em manter o emprego, é esse mané que decide eleição. É obrigado por lei a ir votar, e vota a esmo, sem comprometimento, sem ter nenhuma consciencia nem remorso do ato vil que comete, e pior, que perpetua. Vota no que estiver em primeiro na pesquisa, ou em quem o patrão indicar. E faz isso sempre. Ou vende o voto, troca por dentadura, por cachaça. Então, é só a Dilma seguir a receita do pai: falar errado, coisas sem nexo, dar uma de nervosinha pra mostrar energia e personalidade, e nunca atrasar o bolsa familia. E mentir, mentir muito, repetir essa mentira à exaustão, que ela acaba se transformando em verdade. Lula assim o provou. Eu sou a favor da reforma política, mas com voto não obrigatório e sou amplamente a favor do voto distrital misto e proporcional.

Playboy - O PT tá na Prefeitura de Fortaleza já a muitos anos. Já tem candidato ?
Rogério - Acabei de transferir meu título pra cá. Eu gosto do Heitor Férrer, do PDT, um cara lúcido, pelo menos, mas sei que suas chances são mínimas, pelo menos entendo assim nesse momento. Ele deveria erguer a espada da oposição e se credenciar pro governo do Estado. Em 2014 vai ser mais fácil que nesta do ano que vem, pelo menos eu entendo assim.  Dizem que sai o Marcos Cals pelo PSDB, e tem uns 15 querendo sair pelo PT. Não sei ainda, tá tudo muito nebuloso. Seja quem for, vai herdar um pepino do tamanho de um trem, né ? Obras de mobilidade urbana e da Copa vão estar inevitavelmente atrasadas, e , pelo que consta, muita coisa não vai ter verba necessária pra execução. Já ouvi secretário falar de "Copa alternativa" . Vai ter muita pressão no prefeito da Copa. Mesmo com tudo isso, acho que Fortaleza fará um grande evento, a cidade é linda e o povo hospitaleiro. Seguindo aquele raciocinio do voto irresponsável e contaminado, provavelmente o PT continua aqui tambem. Existe ainda aqui o fator Ferreira Gomes. A eles dois, Ciro e Cid, caberão os movimentos decisivos neste xadrez. Parece que o Tasso se aposentou.

Playboy- Você tem uma filha, não ?
Rogério- Tenho, a Victória. Ela é linda, tem 11 anos. Infelizmente não tenho muito contato com ela, tenho poucas notícias. Mora longe, em Araçatuba, interior de São Paulo. Mas não gostaria de falar sobre isso. É um assunto delicado.

Playboy - Claro. E os próximos projetos ?
Rogério- Andei passando uma fase muito difícil, ultimamente. Muitos problemas profissionais, falta de oportunidade no mercado, em Fortaleza ainda funciona muito o quem indica, então tá bem difícil mesmo. Mas , mesmo com todas as dificuldades, tento sempre olhar pra frente. Agora começo um novo projeto com uma empresa daqui de Fortaleza, e vou seguir fazendo o que eu gosto, que é dar palestras, treinamentos, consultorias comerciais, principalmente ajustando equipes de vendas, instrumentalizando pra aumentar a força comercial da equipe, que é a minha paixão, é o que me motiva. Gosto muito de trabalhar com o pequeno e pequeno-médio empresário. Ele está muito menos engessado que as empresas tradicionais, maiores. Gostaria de fomentar mais grupos de empreendedorismo, redes de associativismo, já conduzi grupos associativistas de farmácias, de postos de combustíveis, de supermercados, tenho bastante conhecimento na área, tenho treinamentos específicos para cada um deles, costumizados, faço cliente oculto e tal. E cobro barato . Acredito que é a única saída pras pequenas e médias empresas neste mundo globalizado e de preços e qualidade cada vez mais próxima nos produtos. É muito importante estas empresas se segmentarem, se unirem, comprarem juntas, planejarem juntas, senão serão engolidas pelas grandes. Juntos, eles ganham poder de negociação com fornecedores, oferecendo preços e produtos melhores pros seus consumidores finais. Podem investir em promoções, em mídia. É inevitável, são muitas as vantagens. As grandes redes de supermercados, de farmácias, de revendas de pneus, estão aí, disputando com o armazém, com o mercadinho, mas com mídia massiva a favor, com ofertas. Se disputa o mercado em centavos. O pequeno, inegavelmente,  tem uma enorme vantagem estratégica: o relacionamento, o olho no olho, o chamar o cliente pelo nome. Isso é um diferencial, que, como o comercial, não tem preço. O empresário precisa se reciclar, arejar as suas idéias, as suas convicções.É saudável. Tem que perguntar, trocar idéias, pesquisar, inclusive os concorrentes, conhecer, participar de feiras e encontros do seu setor. Nos meus treinamentos e palestras, eu escuto o profissional, compartilho as dificuldades, a gente busca um caminho junto com a Empresa, com a equipe, e ajuda a comprometer ambos no processo. Gostaria tambem de executar algum trabalho de coaching, ou empresarial, ou pra algum candidato diferenciado, pois gosto muito de ensinar e capacitar para o uso da neuro linguistica, faz tempo que eu não faço e acho que é uma demanda que ainda vai aumentar. Principalmente pra políticos e candidatos, que ainda não se aperceberam disso, muitas vezes não se tem nem conhecimento do que é. A PNL atua diretamente na maneira de se comunicar, e é claro que isso é um fator decisivo numa eleição.

Playboy - Já que você falou de neuro linguistica, pra terminar, vamos fazer um bate-bola ?
Rogério- Bora.

Playboy- Uma cor ?
Rogério - Verde, sempre.

P-Um País ?
R- Fora o Brasil, né ? Grécia.

P- Um lugar para estar ?
R- Jijoca de Jericoacoara ?

P- Pior lugar que você já esteve ?
R-  Araçatuba. Detestei. A única coisa boa foi a Victória.

P: Um cantor.
R: Elvis Presley.

P: Uma cantora.
R: Duas ! Elis Regina e Nina Hagen.

P: Uma música
R: Pode duas ? "Wish You Were Here" do Pink Floyd e "Avohai" do Zé Ramalho.

P- Uma data inesquecível?
R- 10 de agosto de 2.000.

P: Uma comida.
R: Panelada. E moqueca baiana com muita pimenta-de-cheiro.

P- O melhor time que você viu jogar ?
R- Putz, tantos....o São Paulo de 92/93...aquele Inter do Falcão, Batista e Carpegianni, o Flamengo de 80, Raul, Leandro, Junior, Andrade, Adílio e Zico, Tita , Nunes e Lico, aquele Palmeiras do Rivaldo, Djalminha, Mueller, o outro do Evair, do Edmundo...O Santos sempre que lança molecada...o Brasil de 82, jogava demais...Valdir Peres, Leandro, Oscar, Luisinho e Junior, Falcão , Cerezzo e Sócrates, Zico, Serginho e Éder. O Coritiba neste primeiro semestre encantou, fez partidas excelentes, como aqueles 6X0 no Palmeiras, alguns Barcelonas, alguns Milans...não dá pra citar um só, não.

P: O melhor que você viu jogar.
R: Romário. Se fosse um atleta dedicado, teria sido maior que o Pelé. Mas era putanheiro, não treinava direito, marrento, foi cortado duma seleção de base porque subiu na sacada do seu apartamento num hotel e mijou na torcida, era um porra louca...e está se saindo muito bem no Congresso, sou fã do Baixinho.

P: Um livro.
R: Odisséia. Poesia pura.

P: Ceará ou Fortaleza ?
R: Icasa. Verde e branco, né...

P: Um político.
R: Geraldo Alkimin. Administrador mais do que competente, uma possível solução.

P- Um exemplo ?
R- Educação, sempre.

P: Um pecado.
R: Em mim, muitos, variados e abundantes. Nos outros, interromper quem tá falando.

P: Maior erro.
R: Confiar nos outros.

P- O Brasil é ?
R- Esquisito.

P- O mundo é ?
R- Louco.

P- Você é ?
R- Esforçado.

P- Esta entrevista foi ?
R- Longa.

P- Você quer que a capa da sua Playboy seja com quem ?
R- Gabriella Duarte.

P-A melhor Playboy que você viu foi com quem ?
R- A da Danielle Winnits.

P- A pior ?
R- Da Hortênsia.

Playboy - Rogérião, muito obrigado pela entrevista. Gostaria de acrescentar alguma coisa ?
Rogério - Só uma pergunta :  será que alguém leu até aqui ? Alguns vão até acreditar, né....










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