Porém, desta vez, foi de leitura fluente e sem pressa, me dando ao luxo de degustar cada passagem, cada aventura vivida tanto por Vasco da Gama, quanto pelas histórias que ele conta à respeito da Coroa Portuguesa. A morte de Inês de Castro é de uma dramaticidade impressionante, e não a toa, Camões foi o maior escritor portugues de todos os tempos. A história de Adamastor, revelada quando cruzam o Cabo das Tormentas, tambem é genial.
A invasão da Etiópia, a chegada a Calicute, as tempestades enviadas por Netuno ou Baco, a volta no Cabo da Boa Esperança, a descrição da Ilha da Madeira, ou das obras de arte dos indianos, são realmente descrições raras no sentido de despertarem a imaginação, do leitor conseguir visualizar com clareza a imagem que o autor quer que seja visualizada. A agonia das embarcações, e dentro delas, a expectativa do desembarque numa terra desconhecida, nos mostram o quanto estes homens foram valentes, fortes e destemidos, mesmo que cegos por uma religiosidade exacerbada, ou de um patriotismo que hoje nos parece loucura, cumpriram as mais absurdas jornadas, enfrentando doenças desconhecidas, selvagens e toda a sorte de intempéries e tragédias. Adorei reler este épico.
Aliás, esta coleção da Abril tem me proporcionado muitos momentos de prazer, descubro hoje que a obrigação de ler, seja por imposição da escola, ou mesmo por necessidade de um vestibular, tiram muito da magia que somente uma leitura contemplativa, calma, sem pressa, raciocinando e parando para imaginar as cenas descritas, pode proporcionar. Li quase 20 livros nos ultimos 5 meses, alguns já havia lido em determinadas alturas da minha vida. Mas, mesmo os repetidos, me trouxeram o prazer da compreensão plena da mensagem, coisa que hoje considero impossível de uma pessoa mediana conseguir, antes dos 35 ou 40 anos de idade. Porque a própria experiencia de vida nos aproxima destes geniais personagens, suas peripécias sempre nos remetem a momentos vividos ou sabidos, e isso não temos como referenciar nos primeiros anos da nossa adolescencia, geralmente quando estas leituras nos são exigidas. Dou um exemplo : li pela primeira vez " O Primo Basílio " de Eça de Queiróz, com 15, talvez 16 anos, e o reli a 3 semanas atrás.
Na primeira vez, eu não consegui mesmo distinguir a ironia do texto, a forte tensão sexual existente nas ações, e acabei por achar um romance bobo, aonde os protagonistas morrem no final. Porém, nesta releitura, consegui distinguir claramente às críticas, as insinuações, a ideologia no texto, percebi muito melhor as motivações dos personagens, e isso me fez reavaliar bastante esta obra genial.
Nesta coleção, seleta e representativa da fina nata da literatura mundial, já reli Crime e Castigo, de Dostoiewsky, Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, o Inferno de Dante, enfim, Cervantes, Goethe, Jane Austen com seu Orgulho e Preconceito, Moby Dick, e tantos outros. Hoje, começo a leitura de A Metamorfose, de Franz Kafka, livro que começei a ler duas vez na adolescência e que não consegui compreender lhufas, mesmo eu não sendo o mais néscio dos homens.
Se sobreviver a Kafka, poderei me redimir junto ao sentimento de impotência que tive com 17 anos.
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